UFSC - Alunos e universidade denunciam pichações nazistas

Ofensas e suásticas nazistas foram pichadas na universidade / Miriam Amorim/Cotidiano UFSC

No início deste mês, estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, se depararam com suásticas pichadas e mensagens racistas e homofóbicas deixadas nas paredes de uma sala do Centro de Convivência do campus.

O espaço, conhecido por receber atividades culturais, foi batizado de Sala Quilombo, uma referência aos locais em que escravos se refugiavam para se proteger do regime escravocrata e para resgatar suas tradições.

Os estudantes que encontraram as pichações fizeram a denúncia através da ouvidoria da universidade. A Secretaria de Segurança Institucional fez uma análise das câmeras de monitoramento do entorno do prédio e entregou as imagens para a Polícia Federal.

Até o momento, a universidade não recebeu uma resposta da PF quanto aos desdobramentos da denúncia. A administração da UFSC fez, ainda, uma proposta aos estudantes para promover um ato de conscientização e de limpeza do local, que ainda será combinada com os alunos.

“Não vamos tolerar qualquer tipo de ação preconceituosa que busque intimidar qualquer grupo da UFSC”, afirma Áureo Moraes, chefe de gabinete da reitoria. “Preocupa-nos esse tipo de manifestação, principalmente pela integridade e segurança dos estudantes”, acrescenta Moraes, salientando a existência da Saad (Secretaria de Ações Afirmativas e Diversidades), criada para combater preconceitos no espaço acadêmico.

“Defenderemos as diversidades em todas as instâncias da Universidade, onde deve haver respeito a todas as expressões e manifestações de cunho pacífico. Qualquer tipo de manifestação que incite à violência não será tolerado pela UFSC. Esta prática criminosa, que ataca e menospreza os negros da comunidade acadêmica, atinge a todos e debocha das ações afirmativas, que é política e escolha da UFSC”, esclarece Francis Tourinho, secretária da Saad.


Aumento da intolerância

Para o professor de história Alan Geraldo Myleô, o caso envolvendo a Universidade Federal de Santa Catarina é um exemplo de um fenômeno que tem acontecido junto com a ascensão social no país.

“Pessoas que antes não frequentava lugares como a universidade, aeroportos, pontos turísticos, agora estão frequentando, e isso incomoda os privilegiados que sempre tiveram esses espaços somente para eles e que agora não querem compartilhá-los”, explica ao Portal da Band.

A intolerância, na análise de Myleô, sempre existiu, mas agora está saindo do plano teórico e indo para a prática. “Enquanto esses espaços eram negados aos negros e aos mais pobres, o preconceito não precisava ser externado. A partir do momento que essas pessoas começam a conviver com os privilegiados, essa manifestação acontece de uma forma extrema”, ressalta.

Tão extrema que configura crime. A lei federal 7.716, que define os delitos de discriminação, estabelece no primeiro parágrafo do artigo 20 que fabricar, comercializar, distribuir e veicular símbolos para divulgação do nazismo é transgressão, tendo como pena a reclusão de dois a cinco anos, além de multa.

O professor enxerga a reação dos estudantes em denunciar as pichações como uma demonstração de resistência. “A via [de combate à intolerância] é o dialogo sem medo do conflito ou do constrangimento”, define.

“Por exemplo, às vezes eu tenho uma visão de mundo na qual eu abomino o preconceito, mas, para não estragar amizades ou discutir com familiares, eu faço vista grossa quando vejo algo preconceituoso. Evitar esse diálogo perpetua o preconceito, além de diminuir a força das pessoas que se opõe a ele. Atos de intolerância têm que ser denunciados, compartilhados nas redes sociais, em uma demonstração de que comportamentos do tipo não serão aceitos de jeito nenhum”, finaliza.Karen Lemos

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