HISTÓRIA DE UMA POETISA

A vida solitária de Elizabeth Bishop

A personalidade e a vida de Elizabeth Bishop continuam a exercer um enorme fascínio nos biógrafos (Foto: Wikimedia)

Elizabeth Bishop não gostava de se expor ou de revelar seus pensamentos íntimos. Enquanto outros poetas escreviam poesia confessional, ela manteve um distanciamento emocional de seus leitores. Os rascunhos originais de seus poemas mostram as inúmeras revisões feitas nos textos, às vezes até 17 correções, a fim de tornar o trabalho final tão perfeito e impessoal quanto possível.

Elizabeth era lésbica, porém nunca assumiu o lesbianismo, embora os jovens poetas homossexuais na década de 1970 tivessem parceiros chamados de amigos ou secretários. Ela era uma alcoólatra que se envergonhava de seu alcoolismo, mas nunca procurou um tratamento sério.

A poesia era uma maneira de “pensar seus próprios sentimentos”, no entanto, esses sentimentos muitas vezes ficavam escondidos entre parênteses ou escritos em uma perspectiva de alguém muito diferente de si mesma. Por isso, a personalidade e a vida de Elizabeth Bishop continuam a exercer um enorme fascínio nos biógrafos.

Em A Miracle for Breakfast, a primeira biografia completa escrita em 20 anos de Elizabeth Bishop, Megan Marshall deixa seu personagem criar vida ao longo da história. A autora, que foi aluna de Bishop em Harvard no ano de 1976, lembra como ela parecia uma tia recatada aos olhos dos alunos: “uma mulher com um ar melancólico, talvez ainda mais baixa do que eu imaginara…vestida com elegância, mas com roupas desconfortáveis.”

Entretanto, sob esse verniz de autocontrole havia uma personalidade rica e turbulenta. Bishop tinha consciência do contraste, como mostra sua correspondência com uma companheira no período em que lecionou na Universidade de Washington em 1966: “Todos me tratam com tanto respeito e me chamam de Srta. B, por isso, às vezes sinto um riso quase incontrolável preso em minha garganta…como sou diferente do que pensam.”

O passado de Bishop era bem mais complexo do que muitos sabiam, mesmo seus amigos mais próximos. Sua infância fora marcada por acontecimentos trágicos e a vida adulta não havia sido menos tumultuada. Um homem com quem saíra por algum tempo suicidou-se um ano depois que ela rejeitou seu pedido de casamento.

Sua companheira de mais de 10 anos, Lota de Macedo Soares, uma arquiteta e paisagista autodidata brasileira, morreu com uma overdose de medicamentos antidepressivos em Nova York, no apartamento de Bishop. Embora já separadas o suicídio foi motivado em parte pela descoberta de uma infidelidade amorosa da antiga companheira.

Marshall escreve com tanta sensibilidade e delicadeza que a narrativa não se torna deprimente. A Bishop descrita em seu livro é um personagem às vezes sombrio, ou culpado pelo estado quase constante de embriaguez. Mas também era uma pessoa atraente e cheia de vida.

A autora optou por um estilo de narrativa em que intercala capítulos biográficos, com lembranças do tempo em que era aluna de Bishop. Embora isso dê autenticidade à biografia, interrompe o fluxo da narrativa. Além de ser um contraste com uma descrição tão íntima das várias fases da vida de seu personagem. Porém, é um pequeno detalhe de um relato fascinante do mundo complexo de uma das maiores poetisas do século XX.The Economist

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