IGREJA CATÓLICA

Papa Francisco enfrenta oposição de tradicionalistas no Vaticano

Francisco corre o risco de ser lembrado como um papa que não tomou medidas enérgicas para combater a pedofilia e os abusos sexuais (Foto: Flickr)

A ilha de Guam no oceano Pacífico está a mais de 12,000 km de distância da Cidade do Vaticano. No entanto, no mês passado, esse território distante dos Estados Unidos foi palco de duas das questões mais controversas que o Papa Francisco enfrenta, o escândalo do abuso sexual do clero e a oposição dos sacerdotes conservadores.

O cardeal Raymond Burke passou dois dias em Guam presidindo o julgamento do arcebispo Anthony Apuron acusado de molestar coroinhas. O arcebispo é o clérigo católico investido de maiores poderes e atribuições pela Igreja a ser julgado por acusações de abuso sexual. O processo pode demorar anos. Afinal, o cardeal Burke, um conservador radical, é o crítico mais contundente do papa.

O desafio da autoridade papal por parte de uma minoria de sacerdotes católicos nos últimos meses é o conflito mais grave enfrentado por um pontífice desde a crise na década de 1970, quando o falecido arcebispo Marcel François Lefebvre rejeitou o pedido formal da Santa Sé de dispensar de suas funções os clérigos da Fraternidade Sacerdotal de São Pio X.

No mês passado, os funcionários do Vaticano receberam em seu e-mail o que parecia ser uma versão digital do jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano. Ao abri-lo, eles encontraram um fac-símile perfeito do jornal ridicularizando o chefe supremo da Igreja Católica e representante de Deus na Terra. A manchete dizia “Ele respondeu!”, uma referência sarcástica à recusa do papa em responder a uma carta de quatro cardeais conservadores, entre eles o cardeal Burke, datada de setembro de 2016, porém só divulgada pelos cardeais em novembro.

A carta desafiou o Papa Francisco a declarar que o texto de sua encíclica, Amoris Laetitia (“A Alegria do Amor”), um documento no qual pedia que a Igreja fosse menos rígida e mais compassiva com seus membros “imperfeitos”, como os que se divorciaram e voltaram a casar, obedecia aos princípios da longa tradição da doutrina católica. Nas notícias do Osservatore falso, as quatro respostas foram “sim e não”.

Menos de uma semana antes, surgiram cartazes em Roma pedindo ao papa, desrespeitosamente chamado no dialeto romano de Francé, que explicasse como sua defesa da compaixão pelo ser humano se harmonizava ao tratamento dispensado às instituições católicas, inclusive à Cúria romana, o corpo administrativo que ajuda o papa a exercer suas funções de Sumo Pontífice.

Em 2014, o Papa Francisco criou a Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores (CPPM), com o objetivo de proteger os menores e evitar a repetição de casos de abusos sexuais na Igreja Católica. Desde então, tem se discutido a eficácia de suas ações. Um membro queixou-se que os recursos recebidos pela Comissão eram insuficientes para custear suas atividades.

E no mês passado, a Comissão sofreu um duro golpe em sua credibilidade com a renúncia da irlandesa Marie Collins, uma vítima de abusos sexuais na infância por sacerdotes. Em seu pedido de demissão, Collins referiu-se à “falha da Congregação para a Doutrina da Fé em não responder as cartas das vítimas”. Um ano antes o inglês Peter Saunders, também vítima de abuso sexual, fora demitido sem seu conhecimento.

Duas das mais importantes recomendações da Comissão não foram atendidas. O projeto de criação de um tribunal para julgar os bispos acusados ​​de omissão perante alegações de abuso não se concretizou. Além disso, a Comissão não divulgou diretrizes para as dioceses referentes à prevenção, detecção e providências a serem tomadas em casos de abusos.

O Papa Francisco esforçou-se para que a Igreja aceitasse e convivesse em harmonia com um mundo no qual muitos católicos não obedecem aos princípios da doutrina cristã, com o uso de métodos artificiais de contracepção e a prática de coabitação antes do casamento. Mas poucos compartilham sua opinião que a homossexualidade não é um pecado.

Existe um perigo crescente que o Papa Francisco não seja lembrado como um pontífice corajoso, que lutou para introduzir reformas na Igreja Católica, e sim como um papa que não tomou medidas enérgicas para combater a pedofilia e condenar os bispos cúmplices de abusos sexuais.The Economist

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