PRÓS E CONTRAS - A predominância do inglês no meio científico

A solução não seria substituir o inglês, e sim incentivar o multilinguismo na comunidade científica (Foto: Flickr)

É comum ouvir o comentário no Reino Unido e nos EUA que o inglês é uma língua universal. Mas muitas pessoas não falam inglês. Porém, em algumas áreas essa observação é pertinente. No mundo empresarial globalizado a fluência em inglês é indispensável. No campo da ciência, o inglês é a base do trabalho acadêmico. Mas nem sempre isso é um fator positivo.

O uso de uma língua franca no meio científico tem vantagens. Basta imaginar por alguns instantes as consequências da falta de comunicação entre cientistas de diferentes países para o progresso da ciência. Durante séculos, o latim permitiu que cientistas como Copérnico, Kepler e Newton ficassem, nas palavras de Newton, “apoiados nos ombros dos gigantes” que os antecederam. Com a ascensão dos vernáculos europeus como línguas “sérias”, uma pessoa culta e instruída deveria ser capaz de ler em vários idiomas. O alemão se destacou como a língua da ciência.

Agora, os cientistas não anglófonos aprendem inglês. Mas os cientistas que têm o inglês como língua oficial ou dominante pouco se interessam em aprender outros idiomas. Porém, três cientistas abordaram o perigo do predomínio do inglês no campo científico em um artigo publicado na revista PLOS Biology.

Tatsuya Amano, Juan González-Varo e William Sutherland examinaram áreas nas quais o conhecimento local era importante, como ecologia e preservação. A pesquisa deles mostrou que 64,4% dos artigos publicados no Google Scholar sobre “preservação” e “biodiversidade” estavam escritos em inglês. Só 12,6% dos trabalhos referentes a esses temas estavam escritos em espanhol, a segunda língua mais usada.

Os guetos monolíngues são prejudiciais à ciência. Em 2004, o trabalho a respeito da transmissão da gripe aviária causada pelo vírus H5N1 para porcos não foi divulgado por estar escrito em chinês. Como resultado, um tempo crucial de pesquisa foi perdido. No material analisado pelos autores do artigo, só metade dos trabalhos acadêmicos em espanhol e um terço em japonês tinham sinopse em inglês. Os trabalhos com resumos em inglês eram em geral publicados em revistas científicas prestigiosas. Mas o caso da gripe aviária mostrou que pesquisas importantes não são divulgadas por causa de barreiras linguísticas. Além disso, alguns cientistas competentes não sabem escrever em inglês.

A solução não seria substituir o inglês, e sim incentivar o multilinguismo na comunidade científica. Estudos revelaram que escrever e pensar em uma segunda língua estimula o raciocínio dedutivo. Já o uso da língua nativa dá fluidez ao pensamento. Uma pessoa bilíngue se beneficia com a coexistência desses dois processos de pensamento.The Economist

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