ECONOMIA - Globalização não reduz a desigualdade social da China

Muitos chineses acham que a desigualdade e a mobilidade social estão, em muitos aspectos, piores (Foto: Good Free Photos)

Os operários de fábricas nos Estados Unidos e na Europa culpam com frequência a China por se apropriar de seus empregos. Não há dúvida que a enorme população de trabalhadores da China, dispostos a trabalhar com um salário bem inferior ao dos colegas ocidentais, deu uma enorme vantagem competitiva ao país. Desde 1979, com a transformação da China na oficina do mundo, milhões de chineses saíram da situação de pobreza.

No entanto, os chineses compartilham muitas preocupações que inquietaram os eleitores ocidentais há pouco tempo. Os trabalhadores chineses, assim como os membros da nova classe média, preocupam-se com a crescente desigualdade social e econômica, com o impacto da migração em massa dos habitantes da região rural para os centros urbanos e a perda de empregos.

Em 6 de dezembro, o Global Times, um jornal ultranacionalista editado em Pequim, publicou um editorial no qual culpava a globalização pela desigualdade de renda, pela bolha imobiliária e a devastação do meio ambiente.

Os fracassos políticos da China também são culpados por esses problemas. Mas o governo percebeu o perigo crescente da indignação popular provocada pela divisão entre ricos e pobres. Na década de 1980, a China era um dos países com a maior igualdade social do mundo; hoje, é um dos piores. Há dez anos, a prioridade da política do governo de “construção econômica” passou a ser a da criação de uma “sociedade harmoniosa”.

Porém muitos chineses acham que a desigualdade e a mobilidade social estão, em muitos aspectos, piores. Os membros da classe média em rápido crescimento queixam-se da ascensão de uma nova plutocracia. Eles dizem que os ricos conquistaram suas fortunas por meio da corrupção e das relações pessoais, e não pelo trabalho árduo e persistente. Entre os trabalhadores da classe operária, a mudança estrutural da economia de produção com o uso maciço de mão obra para o incentivo ao setor de tecnologia de ponta e de serviços, está gerando insegurança.

Em 2013, pela primeira vez, a contribuição do setor de serviços ao PIB, como transporte, lojas, restaurantes e finanças, foi maior do que a parcela da produção industrial, da mineração e da construção (ver gráfico). Nos últimos dois anos, os empregos nas fábricas diminuíram, em parte porque a globalização está começando a desempenhar o mesmo papel na China, exercido nos países desenvolvidos. Em consequência da globalização, muitas fábricas transferem suas sedes para lugares com um custo menor no exterior.

O impacto é maior em muitas das centenas de cidades especializadas na fabricação de determinados produtos. Datang, a cidade de produção de meias na China perto de Hangzhou, é um bom exemplo. Em 2014, Datang produziu 26 bilhões de pares de meias, o equivalente a quase 70% da produção da China, mas muitas fábricas estão fechando com a mudança do setor de vestuário para países com o custo menor de produção na Ásia. Como um gerente local disse, “As pessoas não vão pagar mais por um par de meias”.

O sentimento de oposição às elites, como o vivenciado no Reino Unido e nos Estados Unidos, é a pior ameaça ao poder do Partido Comunista da China (PCC). O presidente Xi Jinping é um membro da classe alta do partido. Seu pai foi primeiro-ministro adjunto de Mao até sofrer um expurgo. Muitos de seus aliados mais próximos são também os “príncipes” do partido, nome dado aos filhos de membros importantes do PCC. Por esse motivo, ele insiste em dizer que é um “homem comum”, enfatizando sua experiência de viver em uma caverna e de trabalhar na agricultura durante a Revolução Cultural de Mao. Além disso, Jinping apela para o nacionalismo popular, com menções ao “grande rejuvenescimento” do país e ao “sonho chinês” (frases de efeito semelhantes ao slogan “Make America Great Again” de Trump).

A China não tem as complicações políticas de eleições livres, muito menos de referendos. Mas o partido sente que precisa ser receptivo à opinião popular a fim de se manter no poder. Porém está mais difícil para o governo atender às expectativas do povo com a desaceleração do crescimento econômico e a demanda crescente de mais fontes de prosperidade difícil de satisfazer.The Economist

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