ENERGIA HIDRELÉTRICA - Etiópia inaugura a usina mais polêmica do mundo

Obras foram financiadas por um empréstimo chinês de US$ 470 milhões (Foto: Twitter)

O governo da Etiópia gosta de projetos ambiciosos. O país tem o primeiro sistema moderno de metrô elétrico da África Subsaariana, o mais amplo programa de habitação da região e o maior exército. Este mês, o país adicionou outro item a essa lista: a usina hidrelétrica mais alta do mundo.

Após anos de atraso, gerados, principalmente, por falta de financiamento, o primeiro-ministro do país, Hailemariam Desalegne, finalmente inaugurou a usina hidrelétrica Gibe III. Localizada no rio Omo, ela tem 243 metros de altura e capacidade para dobrar a produção de energia do país.

Apelidada de “torre de água da África”, a Etiópia há muito vem buscando formas de aproveitar a energia dos rios que descem de suas montanhas. Gibe III é a mais recente tentativa. Junto com a usina, será inaugurado o maior reservatório de água da África.

Porém, onde quer que sejam construídas, usinas hidrelétricas são sempre alvo de críticas. Um estudo da Universidade de Oxford publicado em 2014 concluiu que as usinas quase sempre prejudicam economias em desenvolvimento, afundando-as em dívidas e sem promover benefícios para a população deslocada pelo projeto.

Mas Gibe III tem sido especialmente polêmica desde que seu projeto foi iniciado, em 2006. O Banco de Desenvolvimento Africano, o Banco Mundial e o Banco de Investimento Europeu se recusaram a financiar o projeto diretamente. No fim das contas, as obras foram bancadas por um empréstimo de US$ 470 milhões, concedido pelo governo chinês.

A grande controversa é que, ao regular o fluxo do rio Omo, a usina trará consequências significativas para milhares de pessoas que dependem da cheia anual do rio. Isso em uma época que a Etiópia sofre uma seca sem precedentes. Segundo ativistas, não houve cheia em 2015 e a deste ano não foi suficiente para sustentar as colheitas. Para piorar, as comunidades que serão afetadas não foram consultadas pelo governo.

No Lago Turkana, no Quênia, onde o rio Omo deságua, o impacto será ainda maior. O nível do lago caiu quase 1,5 metro nos últimos 18 meses, desde que o reservatório de Giba III começou a encher. Isso afetou a pesca no Turkana. Estima-se que o Omo é responsável por quase 90% das águas que abastecem o Turkana. O controle do fluxo do Omo pode fazer o lago desaparecer por completo.

Diante das críticas, ao governo etíope endureceu sua posição a favor de Gibe III. O ex-primeiro-ministro Meles Zenawi, morto em 2012, garantiu que a usina seria concluída “a qualquer custo”. Ele rejeitou as críticas ao projeto, chamando-as de opiniões de pessoas que “não querem o desenvolvimento da África, que querem que continue subdesenvolvida para servir de museu para turistas”.The Economist

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