IGREJA POSITIVISTA - Antigo templo republicano se deteriora no Rio

Lema do positivismo está estampado na bandeira nacional (Foto: Facebook)

A Igreja Positivista do Brasil foi fundada em 1881, no bairro da Glória, zona sul do Rio de Janeiro. Seus fundadores, Miguel Lemos e Raimundo Teixeira Mendes, eram entusiastas do positivismo, conceito criado pelo filósofo francês Augusto Comte, que prega o conhecimento científico como o único conhecimento verdadeiro.

Em seus anos de esplendor, a igreja foi palco de reuniões de republicanos contrários à elite escravocrata e acalorados debates sobre ideias republicanas influenciadas pela França. As ideias discutidas no local ajudaram moldar o Brasil moderno que emergiu após o fim do império.

Apesar da importância histórica, o lugar hoje se encontra abandonado. As paredes estão pichadas, há buracos no telhado e pombos dominam e sujam a ala central da igreja. Um vigia é encarregado de proteger o local contra ladrões que vasculham prédios antigos e abandonados da cidade.

“Tragicamente, nossa instituição agora se encontra negligenciada, como se o Brasil desdenhasse da história”, diz Christiane Souza, Diretora de Patrimônio da igreja.

De fato, os brasileiros sabem pouco sobre o positivismo, mesmo tendo o lema da corrente filosófica estampado em sua bandeira nacional. A expressão “Ordem e Progresso” é uma abreviação do lema do positivismo: “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”.

Em uma explicação breve, o positivismo busca reorganizar a sociedade em torno do conceito de que as explicações derivadas da ciência devem ser tidas como uma forma de entender o mundo. Assim, Comte criou sua própria religião, a Religião da Humanidade, que ganhou adeptos no mundo todo. Ela determina que não há eventos sobrenaturais e que todos os fenômenos provém da natureza. Trata-se de uma busca pela espiritualidade plenamente humana, que crê que o ser humano, esclarecido pela ciência, pode viver de forma totalmente pacífica e altruísta.

Algumas características da igreja lembram o catolicismo, em especial a decoração. Os adeptos exaltavam um ícone feminino similar à Virgem Maria: Clotilde de Vaux, mulher por quem Comte foi apaixonado.

Em outros países, o local onde personalidades tão esclarecidas debateram ideias seria consagrado como um museu. Mas não no Brasil. Não no Rio de Janeiro, onde no ano passado foi inaugurado um extravagante Museu do Amanhã para contemplar o futuro, enquanto casas e prédios da belle époque da cidade se deterioram.

A negligência em relação à Igreja Positivista do Brasil afronta à célebre frase dita por Comte e inscrita na entrada neoclássica do templo: “Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos”, que remete ao culto à memória dos mortos pelo legado deixado por eles para humanidade.The New York Times

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