GRIPE - Ano de nascimento influencia na resistência à gripe

Pesquisas encontraram ligação entre o ano do nascimento de uma pessoa e o nível de proteção do sistema imunológico a diferentes tipos de gripe (Foto: Flickr)

Quando se fala em doenças infecciosas, surgem logo à mente os vírus ebola e zika. Mas outros agentes patogênicos exóticos e menos conhecidos são também perigosos. Os epidemiologistas estão agora atentos a duas versões diferentes do vírus da gripe, que podem dar origem a enfermidades epidêmicas graves, como aconteceu de 1918 a 1920, quando a gripe espanhola matou entre 50 a 100 milhões de pessoas.

Esses dois vírus, H5N1 e H7N9 (o “H” e o “N” referem-se às proteínas do envelope viral e os números a versões específicas dessas proteínas), já causaram centenas de casos graves ou fatais de gripe. Em quase todos os casos, o vírus responsável pela doença foi transmitido à vítima por seu hospedeiro preferido, uma ave, como um pato, por exemplo. É uma boa notícia, porque significa que esses vírus precisam adquirir a capacidade de serem transmitidos por seres humanos.

Mas os pesquisadores que estudam esses vírus observaram um padrão estranho entre as pessoas infectadas. O H5N1 afeta principalmente crianças e adultos jovens. O H7N9, por sua vez, afeta pessoas mais velhas. Os pesquisadores não encontraram uma explicação lógica para a incidência da doença.

Porém um artigo publicado há pouco tempo na revista Science, por Katelyn Gostic e James Lloyd-Smith da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, oferece uma explicação. Os pesquisadores sugerem que a resposta ao mistério do comportamento dos vírus possa ser o que chamaram de “pecado original antigênico”, a ideia que a reação mais eficaz do sistema imunológico contra a gripe estaria relacionada aos novos contatos com a primeira cepa do vírus. Exposições posteriores a cepas diferentes provocam uma reação não tão eficiente do combate ao vírus.

A classificação dos vírus da gripe que causam pandemias baseia-se no pressuposto que a exposição a uma cepa pode proporcionar uma reação imunológica a outra estirpe. Os vírus H1, H2 e H5 pertencem a um grupo, porque a infecção provocada por um deles proporciona imunidade aos outros dois. Já os vírus H3 e H7 pertencem a uma cepa diferente. A infecção causada por um vírus de uma cepa não propicia imunidade ao contágio de outros.

Com essa ideia em mente, Katelyn Gostic e James Lloyd-Smith analisaram todas as informações referentes às infecções provocadas pelos vírus H5N1 e H7N9. Suas pesquisas encontraram uma ligação entre o ano do nascimento de uma pessoa e o nível de proteção do sistema imunológico a diferentes tipos de gripe. Entre as pessoas nascidas antes de 1968, a probabilidade de terem uma gripe grave causada pelo vírus H5N1 era de menos de 75%. Além disso, tinham menos 80% de chance de morrerem do que as nascidas após essa data. Mas o sistema imunológico não as protegia contra o vírus H7N9. Por sua vez, o organismo das pessoas nascidas depois de 1968 as protegia do vírus H7N9, mas não do H5N1.

Em 1968, a gripe de Hong Kong espalhou-se pelos países da Ásia e, por fim, atingiu o Oriente Médio, a Europa e os Estados Unidos. Essa pandemia foi causada por uma nova variação do vírus H3N2. Antes de 1968, a maioria das pessoas só tinha sido exposta aos subtipos dos vírus H1 e H2. Em consequência da gripe de Hong Kong, ficaram também expostas ao subtipo H3 e adquiriram, assim, proteção contra diferentes versões do vírus.

Segundo Gostic e Lloyd-Smith, suas descobertas ajudarão a prever a faixa etária dos grupos mais vulneráveis a serem infectados em uma futura pandemia. Suas pesquisas também sugeriram que o surto da doença seria mais grave se o vírus responsável pela infecção fosse de uma cepa diferente dos vírus sazonais que provocam gripes, uma vez que as pessoas mais jovens ficariam expostas pela primeira vez a esse tipo de vírus.

Outro aspecto muito interessante do estudo, de acordo com um membro da equipe, o biólogo evolucionista Michael Worobey da Universidade do Arizona, é a força e a resistência da reação inicial do sistema imunológico. Essa descoberta tem implicações para a pesquisa de uma vacina universal contra todos os subtipos de vírus da gripe. Por outro lado, disse Worobey, isso sugere que seria possível proporcionar uma proteção ao longo da vida para pelo menos alguns subtipos de gripe. No entanto, seria difícil fabricar uma vacina para proteger o organismo contra subtipos em mais de um grupo.The Economist

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