NEGÓCIOS - China expande sua influência na América Latina

Com a eleição de Trump, Jinping viu uma oportunidade para expandir a influência da China no “quintal” dos EUA (Foto: Flickr)

A geopolítica não espera por ninguém, nem mesmo pelo presidente eleito dos Estados Unidos. Pouco mais de uma semana após a vitória de Donald Trump, Xi Jinping, o presidente da segunda maior economia do mundo, partiu para a América Latina, sua terceira viagem ao continente latino-americano desde 2013, com uma série de propostas de acordos comerciais. Esses acordos já haviam sido discutidos bem antes da mudança de governo em Washington. Mas com o retorno da imagem do ianque prepotente, Jinping viu uma oportunidade para expandir a influência da China no “quintal” dos EUA.

Os objetivos da China na região são ambiciosos. Em 2015, o governo chinês assinou diversos acordos com os países latino-americanos, com a promessa de duplicar o comércio bilateral para US$500 bilhões no prazo de dez anos e de aumentar o investimento na América Latina de US$85 bilhões a US$100 bilhões para US$250 bilhões. A China também quer diversificar suas fontes de energia, encontrar novos mercados para as empresas chinesas de infraestrutura e expandir o poder por meio da diplomacia e da força militar no hemisfério ocidental.

No entanto, o presidente Jinping em suas visitas ao Equador, Peru e Chile terá de fazer um grande esforço para atingir seus objetivos. Depois de um longo período de crescente cooperação comercial e de relações mais estreitas, muitos países latino-americanos estão em dúvida quanto aos benefícios da aproximação com a China. As exportações na região, assim como no Caribe, diminuíram no ano passado, em grande parte devido à desaceleração do crescimento econômico da China. As exportações da China tiveram uma queda menos acentuada e, em consequência, o déficit comercial da América Latina com o país aumentou.

O cobre, ferro, petróleo e soja são as matérias-primas responsáveis por três quartos das exportações dos países latino-americanos para a China, uma parcela maior do que as exportações para o resto do mundo. Mas o impacto dessas relações comerciais no emprego é pequeno. Um estudo da Universidade de Boston mostrou que o comércio com a China criou menos de 17% de empregos por dólar do valor das exportações do que o comércio com outros países.

Quase todas as importações da China são de produtos baratos. Alguns economistas latino-americanos dizem que os subsídios concedidos pela China aos fabricantes de produtos manufaturados enfraquecem as indústrias do país. Um novo estudo publicado pelo instituto de pesquisa Atlantic Council, com sede em Washington, concluiu que as exportações chinesas “eliminaram ou reduziram a capacidade industrial da região”. Quanto ao interesse da China em investir em infraestrutura e recursos naturais, “não resultará em empregos com a qualidade que precisamos”, disse Rebecca Grynspan, secretária-geral da Comunidade Ibero-americana, uma organização que engloba a Espanha, Portugal e a América Latina, em um seminário em Santiago, Chile, na segunda semana de novembro.

Assim como as expectativas da América Latina estão mudando, o mesmo acontece com o padrão chinês de investimentos. No período de 2010 a 2013, 90% dos investimentos destinavam-se aos recursos naturais. Já os investimentos recentes concentraram-se em outras áreas. Em setembro deste ano, a empresa estatal chinesa State Grid comprou uma participação de 23% da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), uma empresa de distribuição de energia no interior de São Paulo, por US$1,8 bilhão. O grupo WTorre Engenharia e Construção formalizou um acordo com a China Communications and Construction Company International para construir um porto no Maranhão.

As empresas chinesas de investimentos financeiros também estão se envolvendo em parcerias com empresas brasileiras. A empresa Fosun adquiriu há pouco tempo o controle majoritário da Rio Bravo Investimentos, com sede em São Paulo. No ano passado, o Bank of Communications comprou 80% do BBM, um banco com foco no fornecimento de linhas de crédito para médias e grandes empresas, por R$525 milhões (US$174 milhões).

O presidente da China não está interessado apenas em acordos comerciais. Em seu discurso no Congresso brasileiro em 2014, Jinping mencionou a nova “parceria estratégica” com o país. Desta vez, disse Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais na Fundação Getulio Vargas, em São Paulo, o presidente Jinping “irá se apresentar como um elemento estabilizador” no momento em que muitos líderes mundiais temem os efeitos nocivos da política do presidente Trump na economia mundial.The Economist

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