ALEMANHA RACISMO

Alemanha lembra 25 anos de seu pior caso de violência racista desde II Guerra

EFE/Stefan Sauer

A Alemanha lembrou nesta terça-feira os 25 anos de seus piores incidentes de violência racista desde a II Guerra Mundial, os protestos de Rostock, enquanto estuda o que mudou desde então, após os crimes xenofóbicos da Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU, na sigla em alemão) e a crise dos refugiados.

Lichtenhagen, o distrito em que entre 22 e 24 de agosto de 1992 milhares de neonazistas atacaram de forma repetida com coquetéis molotov, garrafas e pedras um albergue de refugiados, virou "trending topic" no Twitter por todo o dia na Alemanha, e muitos jornais e políticos - aproveitando a campanha para as eleições gerais de 24 de setembro - quiseram se posicionar sobre aqueles factos.

Steffen Seibert, o porta-voz do governo alemão, levou ao Twitter o seu "não ao ódio, à violência e à xenofobia", e o ministro da Justiça, Heiko Maas, disse no Facebook que "as imagens" de Lichtenhagen foram "um vergonhoso marco da violência ultradireitista na Alemanha".

A Esquerda, por sua vez, chamou de "pogrom racista", com as indubitáveis conotações que essa palavra tem na Alemanha, aqueles distúrbios - nos quais quase milagrosamente não morreu ninguém -, enquanto o Partido Democrático Liberal e o Partido Social-Democrata da Alemanha defenderam uma sociedade aberta onde não haja xenofobia.

Os historiadores aproveitaram, por sua vez, para avaliar a mudança que a sociedade alemã experimentou nestes primeiros anos de século XXI, que embora não tenha conseguido erradicar o racismo, conseguiu expressar com muito maior clareza e contundência a rejeição maioritária à xenofobia, apesar dos nove assassinatos de imigrantes cometidos pela célula terrorista NSU entre 2000 e 2006 ou os ataques violentos contra albergues de refugiados nos últimos anos (177 em 2015 e 169 em 2016).

Os incidentes em Lichtenhagen começaram em 22 de agosto, quando, à tarde, cerca de mil radicais se concentraram em frente ao albergue de refugiados protestando pela presença de um número cada vez maior de peticionários de asilo (principalmente romenos), que viviam em péssimas condições.

Poucas horas depois, cerca de 300 radicais começaram a atacar o edifício, e as forças de segurança entraram em ação, mas não conseguiram controlar a situação até o fim da madrugada.

De manhã, um grande número de canhões d'água e unidades de apoio de cidades próximas foi disponibilizado no local, enquanto neonazistas vindos de todo o país começavam a se reunir perto do centro de refugiados.

À tarde, 400 extremistas atacaram com coquetéis molotov o edifício e também os policiais, que se viram obrigados a realizar vários tiros para cima para conter a situação. As autoridades declararam estado de emergência em Lichtenhagen e mobilizaram unidades especiais e de choque, mas a violência continuou no local por muitas horas, e o dia terminou com saldo de 70 agentes feridos e um carro de polícia incinerado.

Só no terceiro dia foi possível retirar os aterrorizados refugiados do albergue, o que levou a uma última batalha campal entre 3.000 extremistas e 2.000 policiais.

Após a saída dos refugiados, os racistas voltaram seus ataques contra 200 trabalhadores vietnamitas que também moravam no edifício e que tiveram que fugir pelo telhado.

Enquanto isso, milhares de curiosos e simpatizantes xenofóbicos contemplavam a cena, aplaudiam os agressores e gritavam "a Alemanha para os alemães" e "Fora estrangeiros".

A então ministra da Juventude visitou Lichtenhagen uma semana após os distúrbios e chegou a se reunir com jovens extremistas para ouvir suas queixas, e o encontro foi criticado devido a seu tom ameno para com os agressores.

Anos mais tarde, aquela mesma ministra tornou-se chanceler e protagonizou um dos momentos mais polarizantes da política alemã na história recente do país, ao manter as portas abertas para centenas de milhares de estrangeiros na pior crise de refugiados desde a II Guerra Mundial.

Aquela ministra chamava-se Angela Merkel.EFE

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