LIVROS

A angustiante reflexão humana diante da morte

A literatura é uma valiosa companheira na jornada de McCrum rumo ao esquecimento (Foto: Pixabay)

Em 1995, aos 42 anos, Robert McCrum teve um acidente vascular cerebral grave, uma experiência que relatou com extrema sensibilidade em “My Year Off” ajudado por Sarah Lyall, com quem havia se casado dois meses antes. Apesar da excelente recuperação, McCrum, um editor britânico e antigo editor literário da revista Observer, viveu desde então “à sombra da morte”.

A sombra se aprofundou quando, em 2014, depois que se separou de Sarah, o impacto psicológico de um tombo em uma rua de Londres lhe causou a sensação angustiante de morte iminente. Seu novo livro “Every Third Thought: On Life, Death and the Endgame” é uma reflexão implacável da condição humana diante da morte. Com um estilo coloquial envolvente, o livro baseia-se na experiência pessoal, no testemunho de amigos, em obras de grandes escritores e em entrevistas com especialistas em medicina e psicoterapia.

“Pensamento” é a palavra-chave do livro. McCrum é tão fascinado pela fisiologia do cérebro como pelo modo de pensar dos seres humanos, em especial das pessoas de sua geração, em relação à morte. Os nascidos depois da Segunda Guerra Mundial, escreveu, vivem em uma “fantasia da imortalidade” promovida pelos progressos da medicina, pelo culto da independência e a ênfase do capitalismo no crescimento contínuo. Como um médico de uma clínica de doentes terminais disse: “A sociedade ocidental vê a morte como um fracasso.”

A literatura é uma valiosa companheira na jornada de McCrum em direção ao esquecimento. Enquanto os médicos podem ajudar as pessoas a adiar a hora da morte, a verdadeira batalha é psicológica. Em sua visão, em uma era em que o laicismo predomina as pessoas precisam de histórias para preencher o vazio deixado pela religião, e grandes escritores podem ajudar as pessoas a se encontrarem “em uma realidade vívida, mas inconstante, bem mais profunda do que as preocupações temporais do eu heroico”.

A coragem de McCrum ao contemplar o abismo impregna seu livro de momentos extremamente sombrios. Mas Every Third Thought também mostra que a reflexão sobre a proximidade da morte pode revelar uma firmeza de espírito até então desconhecida e aumentar o amor das pessoas pelo mundo ao seu redor, enquanto ele se distancia.

O livro contém algumas passagens com um humor sarcástico, que interrompem uma narrativa marcada pelo tema do fim da existência humana. Ao lhe perguntarem se a complexidade do cérebro a fazia acreditar em Deus, uma neuropsiquiatra respondeu: “Não. Mas me faz pensar.” É uma pena que o excelente livro de McCrum não inclua uma análise do humor negro, a extraordinária capacidade do ser humano de rir de situações adversas e até mesmo trágicas, como a morte. Afinal, somos todos finitos.The Economist

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