EX-COLÔNIA PORTUGUESA

Angola vira fonte de investimentos para Portugal

Há a suspeita de que investimentos bilionários em Portugal sejam forma de lavar dinheiro (Foto: Wikipedia)

Por quase 500 anos, Angola foi mantida como uma colônia de Portugal e esteve subordinada aos interesses da metrópole europeia. Nos dias atuais, os papéis se inverteram e hoje “o colonizador é colonizado”.

Após alcançar a independência, em 1975, a nação africana vivenciou um período conturbado de guerra civil que durou quatro décadas. No entanto, a paz no conflito, alcançada em 2002, coincidiu com o momento mais próspero da economia angolana, quando teve um “boom do petróleo”. A partir daí, Angola se tornou um dos 20 maiores países produtores de petróleo do mundo.

Esse momento econômico favorável beneficiou em grande parte as elites do país ligadas ao presidente José Eduardo dos Santos, sobretudo a empresária Isabel dos Santos, filha mais velha do governante e a africana mais rica do mundo, segundo a Forbes – com uma fortuna estimada em US$ 3,5 bilhões. De acordo com um estudo da Universidade Católica de Angola, empresários e companhias angolanas investiram US$ 189 bilhões no exterior entre os anos de 2002 e 2015.

Paralelamente ao crescimento angolano, Portugal vem sofrendo com uma grave crise financeira que o forçou a pedir um empréstimo de US$ 111 bilhões a credores internacionais e a rebaixar sua dívida pública. Com esse cenário, o país viu com bons olhos a chegada de investidores angolanos.

Com bilhões investidos em Portugal, por meio da compra de adegas, jornais, equipes esportivas, entre outros investimentos, Angola conseguiu ter acesso à Europa e ser catapultada em poucos anos para o mercado mundial.

António Monteiro, ex-ministro das Relações Exteriores de Portugal e presidente do maior banco privado do país, o Millennium BCP, relatou que diversas companhias portuguesas, inclusive seu banco, foram salvas por investimentos de Angola. “Foi um investidor muito bem-vindo e, em certos momentos, o único investidor em Portugal”, conta Monteiro.

‘Lavanderia’

Embora a necessidade portuguesa por investimentos e a prosperidade angolana tenham criado um casamento perfeito entre os dois países, há uma questão que se discute nessa movimentação bilionária de capital: a origem do dinheiro.

Angola é frequentemente listada como um dos países mais corruptos do mundo, enquanto Portugal é destacado pela permissividade aos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção, sobretudo em negociações com angolanos, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

“Em Angola, eles chamam Portugal de ‘lavanderia’. É chamado assim porque realmente é”, afirmou Ana Gomes, membro do Partido Socialista de Portugal e integrante do Parlamento Europeu.

Além disso, políticos e empresários de ambos os países dizem que Angola é dominada por aliados do presidente com tentáculos em todos os cantos da economia, permitindo que eles acumulem grandes fortunas em negócios politicamente conectados em circunstâncias misteriosas.

Em entrevista ao New York Times, o ex-ministro da Indústria de Portugal e ex-executivo-chefe do Banco Bic Portugal, Luís Mira Amaral, aponta que em Angola e vários países africanos tendem a ser líderes políticos e dos negócios simultaneamente, destacando que os bancos portugueses verificam a origem do dinheiro investido em Portugal.

“Quando vejo Isabel dos Santos colocar dinheiro em Portugal é porque ela tem uma série de grandes empresas em Angola. É fácil de justificar”, explicou Amaral, citando como exemplo a Unitel, a maior operadora de telecomunicações angolana. “Depois pode perguntar como ela conseguiu criar essa empresa. Mas isso é outra questão. Não é um problema meu como administrador de um banco”, explicou Amaral.New York Times

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