'ELEFANTE BRANCO'

Museu em Beirute será inaugurado sem acervo

Reforma custou mais de US$ 18 milhões (Foto: Beit Beirut)

Quase 30 anos após o fim da guerra civil no Líbano, a fachada do prédio Barakat no centro de Beirute ainda tinha buracos de bala. No interior, os primeiros lances das duas escadas de pedra haviam destruídos pelos atiradores para impedir que alguém subisse para os andares superiores. As barricadas de sacos de areia reforçados com concreto ainda dividiam alguns cômodos em dois. As palavras em árabe escritas pela milícia cristã riscavam as paredes.

Construído na década de 1920, o prédio era a moradia da família rica Barakat. Mas depois que a guerra civil começou em 1975, o prédio foi invadido por atiradores das milícias cristãs posicionados na linha de frente entre a área leste e oeste de Beirute. O local ficou conhecido como takaata al-mawt , “o cruzamento da morte”.

No final deste mês o prédio Barakat será aberto ao público como Beit Beirute (A Casa de Beirute), um museu e um centro cultural dedicados a homenagear a vida cotidiana da cidade durante o século passado. Mas o espaço, que foi desapropriado pela prefeitura de Beirute em 2003 e reformado com um custo de mais de US$18 milhões, abre as portas ao público sem um Conselho de Administração, sem diretor, funcionários, acervo nem política cultural.

Beit Beirute foi projetado para ter um auditório e uma biblioteca no térreo, salas para exposições temporárias sobre questões urbanas, paz e reconciliação no segundo e terceiro andares, e um restaurante e café no último piso. O andar térreo é dedicado à lembrança dos anos de guerra. Sem uma coleção permanente, porém, não se pode dizer que seja um museu.

A guerra civil terminou em 1991. Na ausência de qualquer história oficial do período, o conflito não é ensinado na maioria das escolas. Beit Beirute tem sido objeto de discussões em relação à sua finalidade de repositório das lembranças da guerra. Mona El-Hallak, uma arquiteta e ativista envolvida em projetos de proteção do patrimônio cultural e arquitetônico, e que deu início à campanha para salvar o prédio em 1997, acha que o museu deve evitar nomes e datas, concentrando-se em histórias pessoais, tanto positivas quanto negativas, que exploram o tema “como a guerra muda um ser humano e uma cidade”.

Youssef Haidar, o arquiteto responsável pela reforma, também acha que Beit Beirute não precisa ter uma coleção permanente. Para ele, “a coleção” é o prédio, uma memória viva da guerra.

Já a arquiteta Matilda El-Khoury, membro do conselho municipal responsável pela gestão do patrimônio cultural da prefeitura, tem uma visão diferente. Em sua opinião, os anos da guerra civil foram um “pequeno parênteses” na história do Líbano e quer que Beit Beirute explore a memória urbana da cidade até o Império Otomano.

Na ausência de um diretor, não há consenso quanto às funções do prédio. Ele será aberto até o final do ano como uma galeria de arte. Sem funcionários, o restaurante e a biblioteca ficarão fechados. Em teoria, Beit Beirute é um espaço público para reflexão, reconciliação e homenagem à vida dos cidadãos comuns. Mas tem sido usado apenas para eventos privados. Segundo Youssef Haidar, o espaço “não está sendo utilizado de acordo com o objetivo original”.The Economist

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