PESQUISA - Protetor solar pode prevenir esclerose múltipla

Testes indicam que substâncias usadas em protetores mantêm a doença sob controle (Foto: Flickr)

Os experimentos científicos que seguem padrões de consenso são quase sempre úteis para o progresso da ciência. Porém, os maiores avanços científicos em geral são resultado de descobertas imprevisíveis. Esse é o caso de um experimento descrito em um artigo recém-publicado em Proceedings of the National Academy of Sciences. O experimento inicial de Hector DeLuca da Universidade de Wisconsin, Madison, e seus colegas tinha o objetivo de examinar os efeitos dos raios ultravioletas (UV) em ratos com sintomas de esclerose múltipla (ES). No entanto, os pesquisadores surpreenderam-se no final do estudo com a descoberta de duas substâncias eficazes no combate à doença.

A esclerose múltipla é uma doença neurológica autoimune, ou seja, as células de defesa do organismo atacam o sistema nervoso central provocando lesões cerebrais e medulares. A fadiga intensa é um dos sintomas mais comuns da ES.

Ainda se desconhece a causa desse desequilíbrio do sistema imunológico, mas na década de 1970 alguns pesquisadores descobriram que a ES era mais rara nas regiões perto do equador. A primeira hipótese para explicar a incidência menor da doença era a presença da vitamina D, uma substância criada pela ação da luz solar na pele, que prevenia a esclerose múltipla. Essa hipótese fazia sentido, em razão da exposição maior ao Sol nos trópicos do que nas regiões temperadas.

Infelizmente, os experimentos seguintes não confirmaram essa suposição. Mas levaram DeLuca a pensar que o efeito preventivo estava associado a um tipo específico de radiação solar, com um comprimento de onda entre 300 e 315 nanômetros.

Com a finalidade de aprofundar essa ideia, DeLuca e seus colegas usaram esse tipo de luz em ratos que haviam sido injetados com substâncias que provocavam sintomas de esclerose múltipla. A equipe de pesquisadores raspou as costas de 12 ratos e os dividiu em três grupos para efeito de comparação.

Em um deles, os pesquisadores aplicaram um dos seis tipos de protetor solar antes de expor os animais aos raios ultravioletas todos os dias durante um mês. Em outro, DeLuca só aplicou o protetor solar. O terceiro grupo não foi exposto à radiação ultravioleta, nem recebeu uma camada de protetor solar. Em seguida, DeLuca monitorou os sinais do progresso da doença, como a perda do tônus da cauda, o andar sem firmeza e a paralisia dos membros.

DeLuca e seus colegas surpreenderam-se ao descobrir que três dos seis tipos de protetor solar impediram a progressão da doença mesmo em animais não expostos à radiação UV. Um deles, Coppertone, revelou-se tão eficaz quanto à luz ultravioleta. Testes posteriores mostraram que duas substâncias usadas nos três protetores solares, o homosalato e o octissalato, mantiveram a esclerose múltipla sob controle. Agora, resta saber se esses compostos orgânicos também impedem a progressão da doença em seres humanos. Caso se confirme essa hipótese, mais uma vez o acaso terá desempenhado um papel vital para o avanço da ciência.The Economist

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