LIÇÃO ALEMÃ - Como a Alemanha lida com o passado nazista

Turistas visitam o Memorial do Holocausto em Berlim (Foto: Flickr)

A visão das centenas de manifestantes em Charlottesville, no estado de Virgínia, EUA, gritando slogans nazistas e agitando bandeiras com o símbolo da suástica, é preocupante para um espectador em qualquer lugar do mundo. Mas no contexto de uma Alemanha ainda traumatizada pela experiência trágica do nazismo, a visão é assustadora. É claro, os EUA em 2017 não se assemelham à Alemanha em 1933. Mas os gritos coléricos do slogan do movimento nacional-socialista “sangue e solo”, as tochas carregadas pela multidão, as saudações nazistas e a violência lembram um passado não muito distante.

Porém, não se pode deixar que o discurso de ódio contra minorias, raças e culturas diferentes se aprofunde. A Alemanha é o exemplo de que não é possível ceder um milímetro à influência da política sombria do “Blut und Boden”, o slogan “sangue e solo” gritado pelos manifestantes em Charlottesville.

As lembranças do passado permanecem vívidas no povo alemão. Assim como faz parte do currículo escolar aprender a ler e a escrever, as crianças alemãs visitam os campos de concentração junto com seus colegas de classe e professores. Os combatentes civis foram homenageados com nomes de ruas e praças das cidades.

Pequenas placas de latão nas calçadas mostram os nomes e detalhes da vida das vítimas do Holocausto que moravam nesses locais. As inscrições dos monumentos descrevem os nomes dos grupos perseguidos pelos nazistas e citam os campos de concentração (“lugares terríveis que ficarão gravados para sempre em nossa memória”) e, no centro de Berlim, um espaço enorme com pilastras cinza erguidas lado a lado é um símbolo do Holocausto.

A linha entre o aceitável e o inaceitável na ideologia dos partidos conservadores e dos partidos de extrema-direita, como o NPD e o Alternativa para a Alemanha (AfD), assim como no radicalismo do partido anti-islâmico Pegida, é rígida. Segundo a chanceler Angela Merkel, o futuro da Alemanha depende da conscientização profunda do povo alemão que o Holocausto foi o “crime mais bárbaro cometido contra os valores civilizados da humanidade”. Quando Benjamin Netanyahu insinuou que o Grande Mufti de Jerusalém havia sugerido a Hitler exterminar o povo judeu, Merkel, com educação, mas sem hesitar, disse: “A Alemanha é totalmente responsável pelo Holocausto.” Martin Schulz, seu concorrente nas eleições federais em setembro, é categórico ao dizer que, “o partido AfD não é uma “alternativa para a Alemanha, mas sim uma desgraça para a Alemanha!”

A Alemanha, é claro, carrega um fardo histórico único. Mas todos os países têm períodos sombrios em seu passado e revisionistas de extrema-direita em seu cenário político. Os protestos em Charlottesville contra a remoção da estátua do general sulista Robert E. Lee, que comandou as tropas da Confederação na Guerra da Secessão, relembram antigos ressentimentos, que às vezes afloram com violência diante da reação de grupos de extrema-direita. Os países sem holocaustos em seus livros de história precisam aprender com a Alemanha que os erros do passado não podem ser esquecidos.The Economist

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