PSDB CRISE INTERNA

Programa dividiu opiniões de tucanos pró e contra o governo Temer

O racha interno no PSDB se aprofundou na noite da última quinta-feira, 17, após ser veiculado um programa partidário da legenda com fortes críticas ao que chama de “presidencialismo de cooptação”.

Encomendada pelo presidente interino do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE), o programa promove, ao longo de dez minutos, uma autocrítica do partido, e afirma que “o PSDB errou” ao ceder ao jogo da “velha política”.

“O PSDB sabe que é a hora de assumir os seus erros. Acabamos aceitando como natural o fisiologismo que é a troca de favores individuais e vantagens pessoais em detrimento da verdadeira necessidade do cidadão brasileiro. Temos que revisar nossos erros, temos que nos conectar com as pessoas. Erramos cada vez que cedemos ao jogo da velha política”, diz um trecho.

Em outro trecho, o locutor defende a troca do presidencialismo pelo parlamentarismo, e diz que o presidencialismo de coalizão “ficou antigo e ganhou muitos vícios”, que “pode ter funcionado no passado”, mas se transformou em um “presidencialismo de cooptação”. “Presidencialismo de cooptação é quando um presidente tem que governar negociando individualmente com políticos ou com partidos que só querem vantagens pessoais e não pensam no país. Uma hora apoia, outra não. E, quando apoia, cobra caro”, diz o locutor.

O programa, então, mostra quadros com as fotos oficiais dos quatro presidentes do país eleitos após a ditadura. O locutor lembra que dois (Fernando Collor e Dilma Rousseff) foram alvos de impeachment, elenca escândalos de corrupção nos últimos dois governos e alerta para a crise no governo atual. “Depois do petrolão e do mensalão, temos mais um presidente enfrentando grandes dificuldades para governar e unir os brasileiros”, diz o locutor, enquanto a câmera mostra a foto de Michel Temer.

A propaganda partidária foi criticada por interlocutores de Temer e gerou constrangimento entre tucanos que ocupam ministérios no governo. Atualmente, quatro pastas estão sob comando tucano: Relações Exteriores (Aloysio Nunes), Cidades (Bruno Araújo), Secretaria de Governo (Antonio Imbassahy) e Direitos Humanos (Luislinda Valois).

Um “tiro no pé”, diz Aloysio Nunes

Aloysio Nunes expressou sua indignação com o programa nas redes sociais, antes mesmo da peça terminar de ser veiculada. “Tenho 30 anos de vida parlamentar e nunca recebi dinheiro ou pedi vantagens para apoiar as agendas em que acredito. De quem o programa está falando? O sujeito desses verbos que indicam práticas reprováveis são ‘os políticos’. É uma forma pantanosa e politicamente irresponsável de diluir as culpas pela degradação institucional, que, ao lado da crise econômica e da desorganização administrativa, constitui o legado de um partido político. E esse não é o PSDB. É o PT”, disse o ministro.

Nunes disse ainda que programa foi um “tiro no pé” e que os petistas devem ter gargalhado ao assistir o conteúdo veiculado. “O PT, aliás, do Lula ao mais modesto dos seus aderentes, deve estar dando gargalhadas diante desse enorme tiro que a direção interina do PSDB desferiu no nosso próprio pé”, escreveu o ministro.

Outro que se manifestou foi o ministro Imbassahy. Em nota, ele afirmou que “a linha adotada no programa ofende fortemente o PSDB, colocando o partido numa posição extremamente ruim e desconfortável, como se fosse o culpado por todos os problemas, inclusive aqueles criados por governos do PT, dos quais foi oposição”.

Jereissati defendeu o programa partidário e disse que ele serve como um contraponto aos demais partidos, em especial o PT. Fernando Henrique Cardoso também saiu em defesa do programa ao ser questionado sobre o assunto em um evento com empresários no Rio de Janeiro.

“Nessa nova sociedade, mentiu, morreu. Tem que dizer as coisas. Tem que dizer com sinceridade: ‘Acredito, não acredito, penso, não penso, estou errado, errei’. Se o PSDB fizer isso… Vi muita crítica ao Tasso (Jereissati) por causa do programa, mas ele (o programa) falou isso: ‘Erramos? Erramos, fazer o quê?’ Vai dizer que não erramos? Não foi um erramos, alguns erraram, mas está bem, você está falando pelo partido, tem que dizer que erramos, não tem outro jeito”, disse FHC.

Um partido, duas alas opostas

O PSDB vive um profundo racha interno desde que a delação da JBS jogou o governo Temer no centro de um escândalo de corrupção. Antes um forte e coeso aliado do PMDB contra o governo petista de Dilma Rousseff, o PSDB, atualmente, se encontra dividido em duas alas. De um lado estão os parlamentares mais jovens que defendem a debandada do governo (apelidado nos bastidores de “cabeças pretas”). Para estes, permanecer na base aliada de um governo investigado por corrupção é enterrar o nome da legenda.

Do outro lado estão parlamentares mais antigos do PSDB (chamados de “cabeças brancas”) que têm uma visão mais pragmática e defendem a permanência no governo até as eleições de 2018. Para estes, deixar a base aliada agora aprofundaria a crise política no Brasil. A posição desta ala também se dá por temor à ascensão do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), à presidência, caso Temer seja deposto. Na avaliação dos parlamentares cabeças brancas, se está ruim com Temer, ficará pior com Maia.O Globo

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